Zumbido é a percepção de um som nos ouvidos ou na cabeça sem que nada no ambiente esteja produzindo esse som. É como ouvir o som de uma cigarra mas não encontrá-la, das ondas do mar sem estar na praia ou de um apito constante sem que um esteja por perto.
O zumbido não é uma doença, mas sim um sintoma, que ocorre devido a diferentes problemas de saúde. Na sua grande maioria, ele é causado por alterações localizadas no próprio sistema auditivo, sendo que quase 90% das pessoas com zumbido possuem algum grau de perda auditiva. Outras causas para o zumbido incluem doenças que influenciam o ouvido indiretamente, como diabetes, hipertensão e colesterol elevado, por exemplo, além das relacionadas com a ingestão excessiva de cafeína, açúcar, álcool, drogas e fumo.
Aproximadamente 15% da população é afetada pelo zumbido crônico. Porém, enquanto a maioria das pessoas consegue conviver com ele sem maiores transtornos, de 1 a 3% desses indivíduos podem ter sua vida muito perturbada por ele, podendo levar a uma série de reações como distúrbios do sono, falta de concentração, irritação, ansiedade e depressão.
Por ser um sintoma muito heterogêneo, com grande variedade etiológica, não há um tratamento específico e definitivo para todos os casos. Estratégias terapêuticas para o zumbido envolvem modificações na dieta, aparelhos auditivos, terapia de habituação, psicoterapia, medicações, entre outras, todas utilizadas com sucesso variado.
Na última década, as pesquisas da neurociência têm começado a revelar como o zumbido é gerado e mantido pelo cérebro. Quando ouvimos um som, ele é transmitido da orelha até atingir o cérebro, para que possamos interpretar a informação auditiva. O mesmo sinal é transmitido por uma via paralela, chegando no sistema límbico que é a região cerebral que controla nossas emoções, para a avaliação emocional do conteúdo sonoro. Dessa região parte um feedback para a via auditiva que inibe seletivamente sons desagradáveis. Considerando a interação entre áreas auditivas e límbicas, o que parece é que apenas quando a região límbica torna-se disfuncional, é que o zumbido passa a ser percebido como incômodo.
A proposta do estudo apresentado a seguir foi integrar a neurociência do zumbido com a pesquisa clínica do sintoma. O funcionamento do cérebro de pessoas com e sem zumbido foi investigado por meio de uma técnica de neuroimagem funcional, a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT, do inglês Single Photon Emission Computer Tomography). O SPECT fornece informações in vivo da atividade cerebral, pelo mapeamento do fluxo sanguíneo cerebral regional, representando um índice fiel do funcionamento do cérebro. O efeito da acupuntura como tratamento para o sintoma, tanto a nível cerebral, quanto clínico, com a aplicação de questionários que avaliam o impacto no zumbido na vida dos indivíduos também foi investigado.
Foram avaliados 57 pacientes com zumbido crônico e 17 voluntários sem zumbido, pareados por sexo, idade e grau de escolaridade, todos com audição normal. Os pacientes foram randomizados para receber 12 sessões de acupuntura verdadeira ou placebo e foram submetidos a exames de SPECT antes e depois de cada intervenção. A avaliação clínica dos pacientes foi realizada por meio do “Tinnitus Handicap Inventory” (THI), além de outros três questionários.
Foi encontrado um aumento significativo no fluxo sanguíneo cerebral em região específica do sistema límbico apenas nos voluntários com zumbido. Não houve diferença entre os grupos submetidos à acupuntura verdadeira ou placebo após o tratamento. Entretanto, observou-se redução significativa no escore total do THI, bem como nos seus domínios funcional e emocional, no grupo acupuntura verdadeira em relação ao grupo placebo. Para as demais medidas nenhuma diferença foi encontrada.
Esse estudo sugere o envolvimento de mecanismos centrais, não específicos à via auditiva, na fisiopatologia do zumbido, mesmo na ausência de alterações periféricas clinicamente diagnosticadas. Nenhuma alteração no fluxo sanguíneo cerebral foi encontrada após o tratamento, entretanto a acupuntura melhorou o impacto do zumbido na vida dos pacientes, como demonstrado pelo THI, reforçando sua importância clínica no alívio do sintoma.
Para saber mais acesse o artigo “Memory Networks in Tinnitus: A Functional Brain Image Study” que pode ser encontrado na íntegra na revista PlosOne.
Os resultados da acupuntura no tratamento do zumbido também podem ser lidos no artigo “The effectiveness of acupuncture as a treatment for tinnitus: a randomized controlled trial using 99mTc-ECD SPECT”, publicado na revista European Radiology, em janeiro de 2016.
Dra. Maura Regina Laureano
Fonoaudióloga
Fonte: Mapeamento de Fala